Duas adolescentes estavam numa fila de cinema atrás de mim, e eu, ouvindo a conversa delas. De cada três ou quatro palavras, uma era obscena; mas o estranho é que o papo não me pareceu nada de especial. Elas não estavam iradas nem agitadas; falavam apenas, em tom de conversa. Não lhes interessava quem pudesse estar ouvindo, e por que isso haveria de interessá-las? Não achavam mal algum na sua maneira de falar. De certo modo, aliás, elas estavam com a razão. O palavrão, cujo emprego já foi sinal de pertencer a camadas sociais inferiores, por um motivo qualquer, tornou-se aceitável na conversa habitual das pessoas comuns. Apesar disso, sinto-me chocado (não por um sentimento de moralidade ou puritanismo), mas porque esse negócio de palavrões, empregados com displicência e em público, é algo que se aproxima da idéia de uma violação da intimidade. Sei que existem pessoas que se sentem agredidas ao ouvi-los. Os que discordam disso estarão provavelmente dizendo: "Afinal de contas, não são mais que simples palavras ." As palavras, no entanto, são veículos; transmitem mensagens; e, para alguns, a mensagem da irreverência é uma comunicação do feio, da agressividade, além de um desrespeito ao comportamento educado. Obscenidades tipo "parede de banheiro público" e sobre sexo ouvem-se hoje no rádio, em certas canções populares, e até algumas revistas e jornais começam a publicar-se numa linguagem que há cinco anos seria inadmissível. Esta prática é geralmente defendida sob a designação de "liberdades"...mas liberdade de quem? Se a linguagem do feio passar a fazer parte tão integrante da nossa sociedade que seja impossível escapar dela, viremo-nos para onde nos virarmos, nesse caso, quem é livre e quem não o é?
– Bob Greene, Field Newspaper Sindicate – Seleções jun / 82
– Bob Greene, Field Newspaper Sindicate – Seleções jun / 82
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