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Era difícil acertar na primeira.
Tentava uma segunda vez e era quase sempre na terceira que via a camiseta balançar e a bola morrer na rede do gol.
Depois que acertava esse primeiro chute, trocava a posição da camiseta – ora no meio, ora no canto direito, ora embaixo da trave.
Repetia com a mesma seriedade os mesmos gestos, os mesmos passos, a mesma corrida, a mesma expressão séria.
Quando começava a escurecer, jogava a bola para seu esconderijo, pegava a camiseta toda suja e ia embora para sua casa – aquilo era uma casa?
Um dia, logo depois do craque do time ter dado nele uma dura por ter demorado a devolver a bola que havia chutado na porta de entrada do vestiário – “moleque folgado, corre logo que tamos aqui com pressa pra acabar essa porcaria de treino” – , ele se sentiu cansado, como nunca havia estado antes.
Sentou-se e não resistiu àquela grama molhada, friazinha.
Deve ter dormido, pois quando acordou viu que o sol estava caindo.
Levantou-se depressa, pegou a camiseta e pendurou na trave.
Catou a bola, se afastou os cinco metros de sempre e largou o chute.
Na primeira! Não deu tempo de mudar a camiseta de lugar.
Um apito chamou a sua atenção.
Virou-se e deu de cara com o treinador.
– Moleque, amanhã você pega o uniforme com o Chiquinho, não precisa de chuteira ainda que você só vai jogar no coletivo no mês que vem.
Mas é bom se preparar para suar bastante.
Quero ver você puxando a fila.
Você tem as pernas finas demais.
Precisa ganhar músculo ....
O treinador então se virou e foi embora.
O moleque ainda ouviu ele dizer, meio resmungando:
– Puta que pariu, de cada três ele acerta uma!
– Carlos Motta / O riso frouxo do homem insignificante / 50 historietas tragicômicas
http://www.ebooksbrasil.org/
Tentava uma segunda vez e era quase sempre na terceira que via a camiseta balançar e a bola morrer na rede do gol.
Depois que acertava esse primeiro chute, trocava a posição da camiseta – ora no meio, ora no canto direito, ora embaixo da trave.
Repetia com a mesma seriedade os mesmos gestos, os mesmos passos, a mesma corrida, a mesma expressão séria.
Quando começava a escurecer, jogava a bola para seu esconderijo, pegava a camiseta toda suja e ia embora para sua casa – aquilo era uma casa?
Um dia, logo depois do craque do time ter dado nele uma dura por ter demorado a devolver a bola que havia chutado na porta de entrada do vestiário – “moleque folgado, corre logo que tamos aqui com pressa pra acabar essa porcaria de treino” – , ele se sentiu cansado, como nunca havia estado antes.
Sentou-se e não resistiu àquela grama molhada, friazinha.
Deve ter dormido, pois quando acordou viu que o sol estava caindo.
Levantou-se depressa, pegou a camiseta e pendurou na trave.
Catou a bola, se afastou os cinco metros de sempre e largou o chute.
Na primeira! Não deu tempo de mudar a camiseta de lugar.
Um apito chamou a sua atenção.
Virou-se e deu de cara com o treinador.
– Moleque, amanhã você pega o uniforme com o Chiquinho, não precisa de chuteira ainda que você só vai jogar no coletivo no mês que vem.
Mas é bom se preparar para suar bastante.
Quero ver você puxando a fila.
Você tem as pernas finas demais.
Precisa ganhar músculo ....
O treinador então se virou e foi embora.
O moleque ainda ouviu ele dizer, meio resmungando:
– Puta que pariu, de cada três ele acerta uma!
– Carlos Motta / O riso frouxo do homem insignificante / 50 historietas tragicômicas
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