Nosso caipira observa o céu e conhece muito pouco sobre ele.
Às vezes acredita que São Jorge vive na lua matando o dragão.
Minha avó presenciou pela tv a ida do homem à lua e até a sua morte anos depois não acreditava que aquilo realmente ocorreu.
Dizia que era mais um truque do cinema americano.
Em 1975 fui estudar engenharia mecânica em Guaratinguetá, terra do presidente Rodrigues Alves. Morávamos em nove amigos em uma república estudantil que formamos à beira do rio Paraíba bem próximo à ponte metálica ou ponte velha.
Meu maior amigo desta época é de Cruzeiro, estava mais adiantado na faculdade, seu pai tinha uma fazenda no município de Guaratinguetá a qual visitávamos com freqüência para noitadas regadas a vinho, queijo fresco, violão e muitos causos contados e ouvidos.
Certa ocasião o Guto, este meu amigo, foi fazer um curso de astronomia no planetário em São Paulo.
Viajava todo final de semana para as aulas, aprendeu sobre as constelações e também como fazer um telescópio.
Não precisa dizer que o assunto de muito tempo foram as estrelas, os planetas, as galáxias e tudo relacionado.
Por muito tempo demos boas risadas do Guto quando teimava em nos fazer acreditar que um de seus professores de astronomia era cego.
Muitos anos depois, já residindo em São Paulo, vim a descobrir que o tal professor cego realmente existia!
Curso feito, telescópio construído, lá fomos nós no Jeep 54 do Guto para a fazenda pois lá não haveria tanta iluminação a atrapalhar a observação dos astros.
À noite, telescópio à postos, céu maravilhoso, chamamos o Sr. Francisco, administrador da fazenda, para participar do evento.
Após uma breve aula de astronomia, da diferença entre estrelas e planetas, de quantos planetas temos no sistema solar, etc.., o Guto apontou o telescópio para Saturno e foi realmente um espetáculo.
O danado parecia uma bolinha de gude, do tamanho de uma jabuticaba graúda e com os tais aneizinhos à sua volta.
Era uma coisa linda realmente. Chamamos o Sr. Francisco para ver. Ele olhou pelo telescópio, olhou para o céu, olhou novamente pelo telescópio, olhou outra vez para o céu e tornou a olhar pelo telescópio.
– E aí Sr. Francisco, o Sr. viu Saturno Perguntou o Guto
– Vê eu vi, respondeu, mas não acreditei não !
Assim é nosso caipira, às vezes não acredita no que vê, mas acredita naquilo que lhe foi contado por seus avós e compadres, como Saci Pererê, Curupira, Mula sem cabeça ... Para ele a informação oral é a que vale.
O nosso caipira é um bicheiro às avessas, um São Tomé de ponta-cabeça.
Não vale o que está escrito, nem há a necessidade de se ver para crer.
A tradição oral passada a gerações é a história e também a ciência.
O resto são esquisitices ou invencionices como sinhôzinho Guto tentou ensinar.
– Autor: MARCOS S. R. CABETE / "CAUSOS" / http://ebooksbrasil.org/
Às vezes acredita que São Jorge vive na lua matando o dragão.
Minha avó presenciou pela tv a ida do homem à lua e até a sua morte anos depois não acreditava que aquilo realmente ocorreu.
Dizia que era mais um truque do cinema americano.
Em 1975 fui estudar engenharia mecânica em Guaratinguetá, terra do presidente Rodrigues Alves. Morávamos em nove amigos em uma república estudantil que formamos à beira do rio Paraíba bem próximo à ponte metálica ou ponte velha.
Meu maior amigo desta época é de Cruzeiro, estava mais adiantado na faculdade, seu pai tinha uma fazenda no município de Guaratinguetá a qual visitávamos com freqüência para noitadas regadas a vinho, queijo fresco, violão e muitos causos contados e ouvidos.
Certa ocasião o Guto, este meu amigo, foi fazer um curso de astronomia no planetário em São Paulo.
Viajava todo final de semana para as aulas, aprendeu sobre as constelações e também como fazer um telescópio.
Não precisa dizer que o assunto de muito tempo foram as estrelas, os planetas, as galáxias e tudo relacionado.
Por muito tempo demos boas risadas do Guto quando teimava em nos fazer acreditar que um de seus professores de astronomia era cego.
Muitos anos depois, já residindo em São Paulo, vim a descobrir que o tal professor cego realmente existia!
Curso feito, telescópio construído, lá fomos nós no Jeep 54 do Guto para a fazenda pois lá não haveria tanta iluminação a atrapalhar a observação dos astros.
À noite, telescópio à postos, céu maravilhoso, chamamos o Sr. Francisco, administrador da fazenda, para participar do evento.
Após uma breve aula de astronomia, da diferença entre estrelas e planetas, de quantos planetas temos no sistema solar, etc.., o Guto apontou o telescópio para Saturno e foi realmente um espetáculo.
O danado parecia uma bolinha de gude, do tamanho de uma jabuticaba graúda e com os tais aneizinhos à sua volta.
Era uma coisa linda realmente. Chamamos o Sr. Francisco para ver. Ele olhou pelo telescópio, olhou para o céu, olhou novamente pelo telescópio, olhou outra vez para o céu e tornou a olhar pelo telescópio.
– E aí Sr. Francisco, o Sr. viu Saturno Perguntou o Guto
– Vê eu vi, respondeu, mas não acreditei não !
Assim é nosso caipira, às vezes não acredita no que vê, mas acredita naquilo que lhe foi contado por seus avós e compadres, como Saci Pererê, Curupira, Mula sem cabeça ... Para ele a informação oral é a que vale.
O nosso caipira é um bicheiro às avessas, um São Tomé de ponta-cabeça.
Não vale o que está escrito, nem há a necessidade de se ver para crer.
A tradição oral passada a gerações é a história e também a ciência.
O resto são esquisitices ou invencionices como sinhôzinho Guto tentou ensinar.
– Autor: MARCOS S. R. CABETE / "CAUSOS" / http://ebooksbrasil.org/
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