Ao passarmos por aquela tenebrosa grota da estrada, comentei com meu pai que toda vez que
passava por lá, a qualquer hora do dia, sentia arrepios.
O velho começou me tranqüilizando: – Estes lugares escuros e frios, devido à sombra das árvores, nos deixam apreensivos e com medo.
Cada sombra se parece com um animal ou uma pessoa, mas é só isso, uma sombra.
Quando estávamos bem debaixo daquela lúgubre árvore, toda retorcida, com os fiapos de parasitas caindo de seus galhos parecendo farrapos, o meu velho pai continuou:
– O Dionísio, um negro muito bom, se enforcou ali naquele galho.
Eu senti um gelado na espinha e apertei o passo, apesar de ser pouco mais das dez horas da manhã.
Mas como não sei se assombração sabe ver a hora o melhor é prevenir!
Quando íamos saindo da grota e o sol esquentou novamente minha espinha, arrisquei perguntar:
– Mas porque foi que ele se matou ?
– Por falta de mistura! Emendou meu pai.
– O Dionísio não era muito bom de serviço e casou-se com uma mulher que não levantava os pés para andar.
Seus rastos pareciam os rastos de um casal de cobra que anda lado a lado, de braços dados.
Até as verduras que eles ganhavam dos vizinhos a mulher deixava perder, só de preguiça de lavar. Foram sete anos sem mistura.
Só arroz e feijão, no almoço e no jantar.
– Eu, continuou meu pai, bem que tentei ajudar.
Mas a gente segue o que a bíblia prega.
Não podia ficar dando o peixe, tinha que ensiná-lo a pescar, ou melhor dizendo, a caçar.
Comprei uma socadeira usada (espingarda de carregar pela boca ) e fui levar para o Dionísio, num domingo, pensando em ensiná-lo a atirar pois, naquela época, tinha muita caça.
E se o homem tivesse uma espingarda não faltaria mistura na mesa.
Quá! Não adiantou nada, o rapaz morria de medo de espingarda, não chegava nem perto!
Deu no que deu, sete anos sem mistura é muito prá qualquer um.
Ele não agüentou mais e deu um fim na sua vida, ali naquele galho.
Foi uma pena!
- Autor: Marcos S. R. Cabete - "Causos" / http://ebooksbrasil.org/
passava por lá, a qualquer hora do dia, sentia arrepios.
O velho começou me tranqüilizando: – Estes lugares escuros e frios, devido à sombra das árvores, nos deixam apreensivos e com medo.
Cada sombra se parece com um animal ou uma pessoa, mas é só isso, uma sombra.
Quando estávamos bem debaixo daquela lúgubre árvore, toda retorcida, com os fiapos de parasitas caindo de seus galhos parecendo farrapos, o meu velho pai continuou:
– O Dionísio, um negro muito bom, se enforcou ali naquele galho.
Eu senti um gelado na espinha e apertei o passo, apesar de ser pouco mais das dez horas da manhã.
Mas como não sei se assombração sabe ver a hora o melhor é prevenir!
Quando íamos saindo da grota e o sol esquentou novamente minha espinha, arrisquei perguntar:
– Mas porque foi que ele se matou ?
– Por falta de mistura! Emendou meu pai.
– O Dionísio não era muito bom de serviço e casou-se com uma mulher que não levantava os pés para andar.
Seus rastos pareciam os rastos de um casal de cobra que anda lado a lado, de braços dados.
Até as verduras que eles ganhavam dos vizinhos a mulher deixava perder, só de preguiça de lavar. Foram sete anos sem mistura.
Só arroz e feijão, no almoço e no jantar.
– Eu, continuou meu pai, bem que tentei ajudar.
Mas a gente segue o que a bíblia prega.
Não podia ficar dando o peixe, tinha que ensiná-lo a pescar, ou melhor dizendo, a caçar.
Comprei uma socadeira usada (espingarda de carregar pela boca ) e fui levar para o Dionísio, num domingo, pensando em ensiná-lo a atirar pois, naquela época, tinha muita caça.
E se o homem tivesse uma espingarda não faltaria mistura na mesa.
Quá! Não adiantou nada, o rapaz morria de medo de espingarda, não chegava nem perto!
Deu no que deu, sete anos sem mistura é muito prá qualquer um.
Ele não agüentou mais e deu um fim na sua vida, ali naquele galho.
Foi uma pena!
- Autor: Marcos S. R. Cabete - "Causos" / http://ebooksbrasil.org/
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