"A história simples, mas nem por isso menos verdadeira, de uma bonita amizade."Ao longo de oito anos, toda vez que chegava novembro eu pedia emprestada ao meu vizinho uma escada extensível de alumínio, de 5 m de comprimento, que ele tinha, para desentupir de folhas a calha de nossa casa.
E todos os novembros Barry ia comigo até os fundos da casa dele, onde guardava a escada encafuada num lugar baixo.
A gente se curvava e abria caminho por entre teias de aranha velhas, afastando um ou dois velocípedes da frente e desviando alguma mangueira.
Barry então segurava numa extremidade da escada e eu na outra.
– Agora vou te ajudar a levar essa coisa - me dizia ele, enquanto eu saltava por cima da estreita cerca de arame que separava nossos quintais.
A escada não era pesada; nós é que gostávamos de desempenhar nossos papéis.
– Eu já devia ter comprado uma.
– Para que se chatear? - respondia Barry - Pode usar a minha quando quiser.
Ele e sua mulher, Patti, compareceram ao batizado de nossos filhos e nos davam as calças , camisas e botas que deixavam de servir nos filhos deles. Minha família e eu ficamos na casa deles, uma noite de inverno, durante cinco ou seis horas, enquanto os homens da companhia de gás consertavam um entupimento em nosso forno.
O sistema de roldanas parece que está meio duro - me avisava ele com relação à escada.
– Daqui a umas horas, eu devolvo isso pra você.
– Não tenho pressa nenhuma. se eu não estiver em casa, deixe aí do outro lado da cerca.
E com um aceno, entrava de novo em casa. isso todos os novembros.
No inverno passado, apareceu uma tabuleta de "Vende-se" no gramado da frente da casa de Barry. Foi-me difícil aceitar que ele ia partir.
Mesmo com o caminhão de mudanças parado na sua porta, não consegui reagir como devia. Eu tinha de te-lo abraçado, mas me limitei a apertar sua mão e a lhe dizer adeus. Enquanto ele se afastava, eu não podia ter parado de acenar , mas não o fiz.
Nessa noite, enquanto fui arrumar o velocípede de meu filho, encontrei , encostada à parede da garagem, a escada extensível de alumínio de 5 m de comprimento.
– Christopher de Vinck. condensado de "The Evangelist" (19 de novembro de 1988), Albany, Nova York.
Seleções / nov-91



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