Havia um pescador de uma aldeia que diariamente ia para a beira do rio com a sua vara de pescar e ficava ali pacientemente à espera que um peixe mordesse a linha.
Ou melhor, três peixes.
Porque era sempre depois de apanhados três peixes que abandonava o local e se dirigia tranquilamente à pequena casa onde vivia com a mulher e um filho pequeno.
Aquele comportamento quase se tornara um ritual e muito se comentava na aldeia.
Reinava a estranheza.
Um dia, chegou um turista e do seu dia-a-dia começou a fazer parte um passeio à beira do tal rio.
Uma, duas, três, muitas vezes, ele ali se deteve a observar o pescador solitário, acabando por puxar conversa com ele.
– "Você desculpe, mas... há vários dias que conheço o seu estranho hábito. Quer dizer... você pesca exatamente sempre três peixes, e depois vai embora."
– "O que queria o senhor que eu ficasse a fazer aqui."
– "Esperasse que outros peixes mordessem o anzol."
– "Mas eu só preciso de três peixes. Somos três bocas lá em casa."
– "E nunca pensou em pescar mais peixes."
– "Para quê?"
– "Para vender e poder comprar redes e um barco."
– "Para quê?"
– "Para comprar uma casa maior e depois talvez outro barco e pôr pessoal à trabalhar para você."
– "Mas para quê?"
– "Para ter outras coisas, ser muito rico, fazer aquilo de que gosta...".
– "Aquilo de que gosto? Mas o que eu gosto é de pescar!"
Maria Emília Moura , Em Diário de Notícias, Lisboa – Seleções / abril de 1985
Ou melhor, três peixes.
Porque era sempre depois de apanhados três peixes que abandonava o local e se dirigia tranquilamente à pequena casa onde vivia com a mulher e um filho pequeno.
Aquele comportamento quase se tornara um ritual e muito se comentava na aldeia.
Reinava a estranheza.
Um dia, chegou um turista e do seu dia-a-dia começou a fazer parte um passeio à beira do tal rio.
Uma, duas, três, muitas vezes, ele ali se deteve a observar o pescador solitário, acabando por puxar conversa com ele.
– "Você desculpe, mas... há vários dias que conheço o seu estranho hábito. Quer dizer... você pesca exatamente sempre três peixes, e depois vai embora."
– "O que queria o senhor que eu ficasse a fazer aqui."
– "Esperasse que outros peixes mordessem o anzol."
– "Mas eu só preciso de três peixes. Somos três bocas lá em casa."
– "E nunca pensou em pescar mais peixes."
– "Para quê?"
– "Para vender e poder comprar redes e um barco."
– "Para quê?"
– "Para comprar uma casa maior e depois talvez outro barco e pôr pessoal à trabalhar para você."
– "Mas para quê?"
– "Para ter outras coisas, ser muito rico, fazer aquilo de que gosta...".
– "Aquilo de que gosto? Mas o que eu gosto é de pescar!"
Maria Emília Moura , Em Diário de Notícias, Lisboa – Seleções / abril de 1985
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