por Pearson Phillips
O terno era digno de um príncipe, mas não me ficava bem.
Eu tinha que escrever um artigo sobre o guarda roupa do príncipe Charles. Concluí que a melhor maneira de obter informações acerca de tão divertido tópico seria falar com o alfaiate real e , para tanto, nada melhor que mandar fazer um terno.
O local era uma daquelas lojas pequenas, escuras, apaineladas de lambris de madeira que ficam na zona norte de Picadilly. Para entrar era necessário abrir caminho por entre os brasões da maior parte das famílias reais da Europa. Ali os pais levavam seus filhos, que por sua vez apresentavam os seus. Certamente o duque de Edimburgo também troxera o príncipe Charles.
O pessoal da loja obviamente não estava habituado a receber pessoas como eu, sem qualquer tipo de fidalguia, mas, com os ventos gelados da recessão que se faziam sentir no ramo, eles passavam a atender a qualquer um, desde que parecesse possuir libras, os dólares ou ienes necessários.
Escolhi um tecido azul-escuro de riscas. As provas decorreram esplendidamente. Enquanto manuseavam a fita métrica e o giz, comecei a falar sobre alguns mexericos relacionados com os ombros caídos e a fundura dos bolsos reais, que eram de fato o verdadeiro motivo de minha visita.
Mas, de repente, as coisas começaram a correr mal. Era a prova final das calças. Tinham sido feitos os últimos ajustes. A suavidade exótica do tecido deveria encobrir as angularidades habituais de minha estrutura inferior num agradável amplexo, só que tal coisa não acontecia. As pernas estavam obviamente compridas demais, os fundilhos, exageradamente fartos, e na cintura sobrava pano como o diabo.
Imagine o pandemônio na sala de provas. O segundo alfaiate chamou o primeiro, que mandou chamar o alfaiate chefe. Apareceu um homem que parecia e se comportava como um cirurgião, o qual requisitou "os apontamentos".
Foi então que um dos alfaiates de lá deu uma palmada na testa, revelando ter-se dado conta de algo extremamente importante. Meteu a cabeça fora da cabine de provas e gritou para o corredor: "Eu pedi as calças de Mr. Phillips, não as do príncipe Philip."
Enquanto eu, horrorizado, despia correndo as calças reais, o costureiro-chefe permitiu-se uma gracinha.
"Pelo menos isso mostrou seu bom gosto."
Percebo que, de vez em quando, o duque ainda veste o nosso terno.
– condensado de The Times (11/nov/1987) - seleções - set/92
O terno era digno de um príncipe, mas não me ficava bem.
Eu tinha que escrever um artigo sobre o guarda roupa do príncipe Charles. Concluí que a melhor maneira de obter informações acerca de tão divertido tópico seria falar com o alfaiate real e , para tanto, nada melhor que mandar fazer um terno.
O local era uma daquelas lojas pequenas, escuras, apaineladas de lambris de madeira que ficam na zona norte de Picadilly. Para entrar era necessário abrir caminho por entre os brasões da maior parte das famílias reais da Europa. Ali os pais levavam seus filhos, que por sua vez apresentavam os seus. Certamente o duque de Edimburgo também troxera o príncipe Charles.
O pessoal da loja obviamente não estava habituado a receber pessoas como eu, sem qualquer tipo de fidalguia, mas, com os ventos gelados da recessão que se faziam sentir no ramo, eles passavam a atender a qualquer um, desde que parecesse possuir libras, os dólares ou ienes necessários.
Escolhi um tecido azul-escuro de riscas. As provas decorreram esplendidamente. Enquanto manuseavam a fita métrica e o giz, comecei a falar sobre alguns mexericos relacionados com os ombros caídos e a fundura dos bolsos reais, que eram de fato o verdadeiro motivo de minha visita.
Mas, de repente, as coisas começaram a correr mal. Era a prova final das calças. Tinham sido feitos os últimos ajustes. A suavidade exótica do tecido deveria encobrir as angularidades habituais de minha estrutura inferior num agradável amplexo, só que tal coisa não acontecia. As pernas estavam obviamente compridas demais, os fundilhos, exageradamente fartos, e na cintura sobrava pano como o diabo.
Imagine o pandemônio na sala de provas. O segundo alfaiate chamou o primeiro, que mandou chamar o alfaiate chefe. Apareceu um homem que parecia e se comportava como um cirurgião, o qual requisitou "os apontamentos".
Foi então que um dos alfaiates de lá deu uma palmada na testa, revelando ter-se dado conta de algo extremamente importante. Meteu a cabeça fora da cabine de provas e gritou para o corredor: "Eu pedi as calças de Mr. Phillips, não as do príncipe Philip."
Enquanto eu, horrorizado, despia correndo as calças reais, o costureiro-chefe permitiu-se uma gracinha.
"Pelo menos isso mostrou seu bom gosto."
Percebo que, de vez em quando, o duque ainda veste o nosso terno.
– condensado de The Times (11/nov/1987) - seleções - set/92
0 comentários:
Postar um comentário