Aconteceu em 1918.
Naquela época um grupo de pessoas hospedava-se num hotel situado entre montanhas, desfrutando de animadas férias. Entre os alegres turistas havia um homem de ciência, de origem suíça, interessado na variedade de minerais e de pedras existentes na região. Uma noite, enquanto jantavam, anunciou que na manhã seguinte percorreria as pedreiras vizinhas dali à procura de algum rubi que, supunha, poderia achar-se lá, como o demonstravam certas segregações características, cuja natureza aproximava-se bastante às que costumam recobrir aquelas pedras preciosas. Os comensais acolheram o anunciado com vivo entusiasmo e grandes demonstrações de prazer, todos formulando-se o propósito de transladar- se aos lugares indicados, à procura de rubis. No dia seguinte, como era seu costume, o homem de ciência partiu antes de sair o sol e, já nas canteiras, deteve-se a examinar cuidadosamente, uma e outra vez, esta e aquela greta, a bater aqui e ali, em vários pontos, até que, finalmente, começou a perfurar com suas ferramentas e brocas os blocos calcáreos. Várias horas depois começaram a chegar os demais participantes da busca, os quais, distribuindo-se a esmo, procuravam quebrar a golpes, miúdos promontórios de pedras, desejosos todos de topar com a luzente e rubra pedra. Em altas vozes comentavam sobre o que tinham imaginado fazer com ela, no caso de achá-la. Durou a empresa vários dias, ao término dos quais o homem de ciência anunciou com grande júbilo, que tinha achado o rubi. Exibiu-o ainda recoberto de pequenas camadas calcáreas, decoradas com minerais de escuro verde-mar. Após festejar o que todos chamaram “a sorte do suíço”, cada qual expressou seu pesar por não ter sido ele o feliz possuidor do precioso mineral. Alguém, que tinha permanecido observando com atenção a cena, acercou- se aos circundantes e lhes disse: – Ele é geólogo; a ele, pois, correspondia achá-lo em virtude de seus conhecimentos. De posse desses conhecimentos, lhe foi fácil seguir o curso dos veios até encontrar a pedra cobiçada. Achou-a porque não a procurou ao acaso. A verdade é que tudo tem sua razão de ser e, devido a isto, as coisas não acontecem por casualidade. Deste modo, a quem possui conhecimentos geológicos, por exemplo, há de ser-lhe mais fácil descobrir a localização de um mineral do que a quem não os possui. Como todos escutavam com grande atenção as reflexões do ocasional expositor, este, após breve pausa, prosseguiu: – O mesmo ocorre em todos os domínios do saber. Quem tem um conhecimento pode, por meio dele, descobrir outros conhecimentos, e aquele que os tenha em maior número, pela própria força que emana do saber, atrairá aos domínios de sua capacidade tudo quanto se proponha. No presente caso, o conhecimento geológico fez as vezes de ímã, o qual, aplicado ao objeto da busca, o atraiu sem maior dificuldade. Deste modo, o rubi oculto nas entranhas destas rochas, prontamente viu a luz em mãos de seu legítimo dono, isto é, daquele que o pôs a descoberto por meio do conhecimento. Mas a coisa não pára aqui – continuou dizendo –, pois a mente de todos vocês somente concebeu a imagem de um rubi polido e lapidado, reluzindo policromados tons, cujas luzes excitaram a cobiça e cegaram seus entendimentos. O geólogo sabia, ao contrário, que o haveria de achar dissimulado entre obscuros envoltórios. E se alguém o tivesse tomado um instante em suas mãos, seria para jogá-lo fora em seguida, como se jogam tantas outras pedras que com similar aparência são abundantes no lugar.
– REVISTA LOGOSOFIA - Nº 7 / http://www.logosofia.org.br
Naquela época um grupo de pessoas hospedava-se num hotel situado entre montanhas, desfrutando de animadas férias. Entre os alegres turistas havia um homem de ciência, de origem suíça, interessado na variedade de minerais e de pedras existentes na região. Uma noite, enquanto jantavam, anunciou que na manhã seguinte percorreria as pedreiras vizinhas dali à procura de algum rubi que, supunha, poderia achar-se lá, como o demonstravam certas segregações características, cuja natureza aproximava-se bastante às que costumam recobrir aquelas pedras preciosas. Os comensais acolheram o anunciado com vivo entusiasmo e grandes demonstrações de prazer, todos formulando-se o propósito de transladar- se aos lugares indicados, à procura de rubis. No dia seguinte, como era seu costume, o homem de ciência partiu antes de sair o sol e, já nas canteiras, deteve-se a examinar cuidadosamente, uma e outra vez, esta e aquela greta, a bater aqui e ali, em vários pontos, até que, finalmente, começou a perfurar com suas ferramentas e brocas os blocos calcáreos. Várias horas depois começaram a chegar os demais participantes da busca, os quais, distribuindo-se a esmo, procuravam quebrar a golpes, miúdos promontórios de pedras, desejosos todos de topar com a luzente e rubra pedra. Em altas vozes comentavam sobre o que tinham imaginado fazer com ela, no caso de achá-la. Durou a empresa vários dias, ao término dos quais o homem de ciência anunciou com grande júbilo, que tinha achado o rubi. Exibiu-o ainda recoberto de pequenas camadas calcáreas, decoradas com minerais de escuro verde-mar. Após festejar o que todos chamaram “a sorte do suíço”, cada qual expressou seu pesar por não ter sido ele o feliz possuidor do precioso mineral. Alguém, que tinha permanecido observando com atenção a cena, acercou- se aos circundantes e lhes disse: – Ele é geólogo; a ele, pois, correspondia achá-lo em virtude de seus conhecimentos. De posse desses conhecimentos, lhe foi fácil seguir o curso dos veios até encontrar a pedra cobiçada. Achou-a porque não a procurou ao acaso. A verdade é que tudo tem sua razão de ser e, devido a isto, as coisas não acontecem por casualidade. Deste modo, a quem possui conhecimentos geológicos, por exemplo, há de ser-lhe mais fácil descobrir a localização de um mineral do que a quem não os possui. Como todos escutavam com grande atenção as reflexões do ocasional expositor, este, após breve pausa, prosseguiu: – O mesmo ocorre em todos os domínios do saber. Quem tem um conhecimento pode, por meio dele, descobrir outros conhecimentos, e aquele que os tenha em maior número, pela própria força que emana do saber, atrairá aos domínios de sua capacidade tudo quanto se proponha. No presente caso, o conhecimento geológico fez as vezes de ímã, o qual, aplicado ao objeto da busca, o atraiu sem maior dificuldade. Deste modo, o rubi oculto nas entranhas destas rochas, prontamente viu a luz em mãos de seu legítimo dono, isto é, daquele que o pôs a descoberto por meio do conhecimento. Mas a coisa não pára aqui – continuou dizendo –, pois a mente de todos vocês somente concebeu a imagem de um rubi polido e lapidado, reluzindo policromados tons, cujas luzes excitaram a cobiça e cegaram seus entendimentos. O geólogo sabia, ao contrário, que o haveria de achar dissimulado entre obscuros envoltórios. E se alguém o tivesse tomado um instante em suas mãos, seria para jogá-lo fora em seguida, como se jogam tantas outras pedras que com similar aparência são abundantes no lugar.
– REVISTA LOGOSOFIA - Nº 7 / http://www.logosofia.org.br
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